ATA DA VIGÉSIMA QUARTA SESSÃO SOLENE DA TERCEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA SEGUNDA LEGISLATURA, EM 16.09.1999.

 


Aos dezesseis dias do mês de setembro do ano de mil novecentos e noventa e nove reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às dezessete horas e vinte e nove minutos, constatada a existência de "quorum", o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão Solene, em homenagem à Semana Farroupilha e de entrega do Prêmio Tradicionalista "Glaucus Saraiva" à Senhora Elma Nunes Sant'Ana, nos termos, respectivamente, do Requerimento nº 29/99 (Processo nº 615/99), de autoria da Mesa Diretora, e do Projeto de Resolução nº 07/99 (Processo nº 625/99), de autoria do Vereador Reginaldo Pujol. Compuseram a MESA: o Vereador Adeli Sell, 1º Secretário da Câmara Municipal de Porto Alegre, presidindo os trabalhos; o Senhor José Fortunati, Vice-Prefeito Municipal de Porto Alegre; o Senhor Olinto Chagas Filho, representante da Secretaria Municipal de Cultura; o Senhor Miguel Velasquez, representante da Procuradoria Geral de Justiça; o Tenente Jair Roberto da Rosa, representante do Comando Militar do Sul; o Professor Ivo Benfatto, Patrão do 35 CTG, representante do Movimento Tradicionalista Gaúcho - MTG; a Senhora Elma Nunes Sant'Ana, Homenageada; o Vereador Reginaldo Pujol, na ocasião, Secretário "ad hoc". Ainda, como extensão da Mesa, foram registradas as presenças dos Senhores Urbano Knorst, Prefeito Municipal de São Jerônimo; Luiz Fontanive Ferreira e Maurício Vandorsee, respectivamente Vice-Presidente e Secretário-Geral da Associação Cristã de Moços - ACM; Marlene Carvalho Leite, Diretora do Colégio ACM - Centro; Gilmar Gaspar Silva, representante do Secretário Estadual de Obras e Saneamento; Márcia Martins, representante da Câmara Rio-Grandense do Livro; Nico Fagundes, Comunicador da RBS TV; Vilmar Romera, Comunicador da Rádio e TV Bandeirantes; Luiz Dexheimer, representante do Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore - IGTF; Thomaz Francisco Flores da Cunha, representante do Jockey Club do Rio Grande do Sul; Edson Otto, Diretor do Jornal Tradição; Gilmar Lopes Hartwig, Patrão do CTG Tiarajú; Alencar Feijó da Silva, representante do Piquete Bonanza; Marco Aurélio Cardoso, Vice-Prefeito de Capivari do Sul; Glaci Osório, Presidenta da Câmara Municipal de Capivari; Fátima Gimenez e Leopoldo Rassier. Também, foram registradas as presenças dos Senhores Joaquim Monks, Vanderlei Moura, Ramos Valle, de representantes do CTG Maurício Sirotsky Sobrinho, de representantes do Piquete Anita Garibaldi e de alunos e professores do Colégio Santo Antônio e da Associação Cristã de Moços. A seguir, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, ouvirem à execução do Hino Nacional e, em continuidade, concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Reginaldo Pujol, em nome das Bancadas do PPB, PSDB e PSB, discorreu  sobre  o  processo  que oficializou as comemorações referentes à Semana Farroupilha em Porto Alegre e sobre a implantação do Prêmio Tradicionalista "Glaucus Saraiva", ressaltando a necessidade de valorização da cultura gaúcha e homenageando, através do nome de Elma Nunes Sant'Ana, a todas as mulheres que lutaram para a construção do Rio Grande do Sul. O Vereador Elói Guimarães, em nome da Bancada do PTB, destacou a justeza do Prêmio hoje entregue, discorrendo acerca da importância do trabalho realizado pela Senhora Elma Nunes Sant'Ana, como professora, folclorista e criadora do Piquete Anita Garibaldi. Ainda, sugeriu a realização de um minuto de silêncio durante o desfile de encerramento da Semana Farroupilha, como homenagem póstuma ao Poeta Jayme Caetano Braun. O Vereador Antônio Losada, em nome da Bancada do PT, teceu considerações sobre as causas econômicas e políticas que resultaram na deflagração da Revolução Farroupilha, afirmando ser esta revolução um marco na história da luta dos gaúchos em defesa da sua cultura e suas tradições e contra discriminações de parte do governo central. O Vereador Isaac Ainhorn, em nome da Bancada do PDT, declarou que a presente solenidade viabiliza um momento de reflexão sobre a história gaúcha e de valorização dos exemplos de vida que construíram essa história, traçando paralelo entre a conjuntura sócioeconômica hoje observada no Estado e aquela vigente quando ocorreu a Revolução Farroupilha. A Vereadora Clênia Maranhão, em nome da Bancada do PMDB, saudou a Senhora Elma Nunes Sant'Ana, registrando a importância do trabalho da Homenageada para o conhecimento da história de mulheres que contribuíram na construção do nosso Estado, seja nos campos de batalha, seja anonimamente, e que, pelas mais diversas razões, tiveram seus nomes relegados a segundo plano dentro da historiografia gaúcha. O Vereador Lauro Hagemann, em nome da Bancada do PPS, lembrou que esta Câmara Municipal participou ativamente dos principais momentos políticos, econômicos e sociais do Estado e, registrando sua preocupação com notícia hoje divulgada na imprensa, de que seria constituída comissão para estudar a divisão do Rio Grande do Sul, analisou os reais motivos que estão originando debates sobre o assunto. O Vereador Gilberto Batista, em nome da Bancada do PFL, declarando seu orgulho por integrar a comunidade gaúcha, discorreu sobre a forma como o conceito de gaúcho está fortemente ligado à vida de todos os rio-grandenses, como sinônimo de tradição, cultura, força e luta por ideais de justiça e valorização do ser humano. A seguir, a Cantora Fátima Gimenez interpretou a música "Guerreiras da Paz". Em continuidade, o Senhor Presidente convidou o Vereador Reginaldo Pujol e o Senhor Nico Fagundes a procederem à entrega do Prêmio Tradicionalista "Glaucus Saraiva" à Senhora Elma Nunes Sant'Ana e, após, concedeu a palavra à Homenageada, que agradeceu o prêmio recebido. A seguir, o Senhor Presidente convidou os presentes para, em pé, ouvirem à execução do Hino Rio-Grandense, interpretado pela Cantora Fátima Gimenez, agradeceu a presença de todos e, nada mais havendo  a  tratar, declarou  encerrados os trabalhos às dezenove horas e quatorze minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador Adeli Sell e secretariados pelo Vereador Reginaldo Pujol, como Secretário "ad hoc". Do que eu, Reginaldo Pujol, Secretário "ad hoc", determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelos Senhores 1º Secretário e Presidente.

 

 


O SR. PRESIDENTE (Adeli Sell): Estão abertos os trabalhos da presente Sessão Solene, destinada a homenagear a Semana Farroupilha e a entregar o Prêmio Tradicionalista “Glaucus Saraiva” à Sra. Elma Nunes Sant’Ana.

Convidamos para compor a Mesa a Sra. Elma Nunes Sant’Ana que receberá, hoje, o Prêmio Glaucus Saraiva; o Vice-Prefeito Municipal de Porto Alegre, Sr. José Fortunati; o representante da Secretaria Municipal de Cultura, Sr. Olinto Chagas Filho; o representante da Procuradoria-Geral da Justiça, Sr. Miguel Velasquez; o representante do Comando Militar do Sul, Tenente Jair Roberto da Rosa; o representante do MTG - Movimento Tradicionalista Gaúcho, Prof. Ivo Benfatto, Patrão do 35 CTG.

Convidamos todos os presentes para, em pé, ouvir o Hino Nacional.

 

(Executa-se o Hino Nacional.)

 

Registramos a presença dos Vereadores Elói Guimarães, Pedro Américo Leal, Isaac Ainhorn, Reginaldo Pujol e Ver. Lauro Hagemann.

De imediato, ouviremos o pronunciamento do proponente do Prêmio Glaucus Saraiva para a Sra. Elma Nunes Sant’Ana, Ver. Reginaldo Pujol, que é da Bancada do PFL, e falará pelas Bancadas do PPB, PSDB e PSB.

Com a palavra, o Ver. Reginaldo Pujol.

 

O SR. REGINALDO PUJOL: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes de Mesa e demais presentes.) Há cerca de cinco anos, inspirado por alguns amigos, entre os quais, por justiça, devo elencar o meu amicíssimo Luiz Valdemar Barcellos Dexheimer, nós iniciamos uma batalha, uma caminhada,. no sentido de restabelecermos, de forma oficial em Porto Alegre o tríduo tradicionalista, o tríduo farroupilha.

Buscamos, em um primeiro momento, oficializar em nosso Município a Semana Farroupilha como um ato definitivamente integrado no calendário oficial do Município, e mais do que isso, na alma popular do porto-alegrense, tarefa na qual nós tivemos o apoio integral do então Prefeito da Cidade, Dr. Tarso Fernando Genro, que, sancionando uma lei nesse sentido, determinava de forma oficial que o Município de Porto Alegre dever-se-ia integrar, como efetivamente vem se integrando, a toda essa movimentação que caracteriza a Semana Farroupilha, apoiando o acampamento nativista, o desfile do 20 de setembro, e, sobretudo, criando as condições objetivas para que, anualmente, este Legislativo pudesse aqui festejar, como hoje festeja, mais um aniversário da nossa epopéia.

Neste contexto, a Câmara Municipal, houve por bem, atendendo a uma proposição nossa, instituir uma comenda, a Comenda Glaucus Saraiva, que tinha um duplo objetivo: de um lado acentuar o reconhecimento desta Casa, no que acompanhada pelos gaúchos e gaúchas que conheceram Glaucus Saraiva, e sabem da sua importância na reafirmação dos valores culturais do Rio Grande; e de outro, buscava destacar, a um só tempo, valores que têm contribuído, de forma objetiva, para que o resgate da cultura gaúcha seja feita de forma mais expressiva.

Vivíamos nós da consciência de que alguns bravos haviam retomado, Antonio Augusto, e tu pontilhavas nessa jornada, a idéia de que o culto à tradição do Rio Grande, ao contrário do que alguns reafirmavam, não se limitava e não se esgotava naquilo que era apresentado como a cultura da grossura, em que as pessoas precisavam falar equivocadamente, acentuando alguns erros de vernáculo, pois era a única forma de expressar o gauchismo. Nós sabíamos, e o Antônio Augusto com seus companheiros de jornada sabiam também, que o cultivo e o culto à tradição do Rio Grande havia encontrado alguns tropeços no tempo, porque, às vezes, alguns entendiam que era uma forma de o gaúcho afirmar um desejo separatista, quando, em verdade, nós, aqui do Rio Grande, somos brasileiros por opção e não por imposição geográfica. Passado esse tempo, os jovens que, iluminadamente, buscaram esse resgate, tinham no Glaucus um valor muito expressivo e, por isso, precisávamos acentuar, de forma clara e precisa, quem eram esses valores. Fomos buscá-los nas mais diferentes demonstrações da cultura do Rio Grande. E

m primeiro, no nosso grande Antônio Augusto Fagundes, primeiro gaúcho a receber desta Casa o Prêmio Glaucus Saraiva. Posteriormente, o meu conterrâneo, homem de rádio, da comunicação, da música e da poesia, Luís Menezes, que se agregaria a esse grupo. Mais recentemente, um grande escultor gaúcho, ocupante de posição de destaque na vanguarda do resgate cultural do Rio Grande, Luís Carlos Barbosa Lessa, que também receberia desta Casa a distinção da Comenda Glaucus Saraiva, o que ocorreu no ano de 1998. Nós imaginávamos que, à medida que destacávamos esses valores vinculados à cultura, às letras, às artes, às comunicações, estávamos dando a abrangência de vida que o prêmio deveria ter e, sobretudo, dando conseqüência prática nessa luta de resgate do Rio Grande, mas faltava alguma coisa. Faltava o reconhecimento do público, de que na luta pelo Rio Grande, pela afirmação de seus valores e tradições, junto com os homens sempre teve, lado a lado, de forma expressiva, uma grande mulher, assim foi com Anita, e assim é, nos tempos modernos, com a figura de Elma Sant’Ana, que me permito dizer que é a Anita moderna, dos tempos contemporâneos, tanto que a conseqüência da afirmação se faz na lógica, com a presença de todas as Anitas aqui presentes, um piquete que ela organizou e do qual participa. (Palmas.)

A Norma Rosito, que se encontra conosco, um pouco oculta lá na galeria, sabe que devo estar emocionado nesta hora. Ela sabe como conheci a Elma Sant’Ana, menina jovem ainda, nossa companheira de lutas no Centro Acadêmico São Tomás de Aquino. Sempre assim, disposta, resoluta. Se precisava mandar buscar mais uma ovelha, carnear mais um bicho lá em quase Mostarda, fundão de Viamão, lá estava a Elma disposta a entrar num jipe, andar por estradas embarradas, o que caracterizava as estradas do Rio Grande, de Viamão e do nosso Litoral naqueles idos de mil novecentos e qualquer coisa. Essa Elma que, depois, se desgarraria de mim, que queria na ecologia, na cultura, nas letras, nas artes, na tradição do Rio Grande se destacar, é aquela mulher que conheci. E não sei se os companheiros Vereadores aqui presentes hão de confirmar o que vou dizer, mas tenho absoluta certeza de que, pelo menos o que me concerne, nunca consegui fazer alguma coisa mais conseqüente, mais objetiva, mais real e mais afirmativa se não tivesse como parceira uma companheira do porte da Elma, do porte da Norma Rosito e de outras tantas que comigo têm andejado pela vida nessas idas e vindas do processo político no qual me encontro envolvido há tanto tempo.

Senhores, Senhoras, irmão Lasier, esse brilhante homem do Rio Grande que gostaria de ter homenageado pelo que ele representa para a cultura do Rio Grande, que representa o tipo de pessoa que consigo respeitar, tendo bem presente a diferença ideológica que nos separa. E adoro quando surgem essas oportunidades, de eu poder realçar uma pessoa que é culta, que é capaz e qualificada, e que não pertence a minha corrente política, porque isso é a melhor forma de eu me afirmar como liberal - saber reconhecer o valor daqueles que não pensam como eu. Quando te vejo aqui, Lasier, fico feliz, um pouco frustrado, porque não consigo te incluir nessa homenagem que tu merecerias, mas sei que tu viestes aqui para chancelar esse tipo de ato. Porque tu, como eu, sabes do valor da Elma. E tu, como eu, entendes que para ser gaúcho não precisa, necessariamente, tomar chimarrão todos os dias de manhã, gostar de comer churrasco com carne gorda, num fandango, andar de botas, andar a cavalo: ser gaúcho é muito mais, é tudo isto e muito mais. Ser gaúcho é ter uma consciência de que aqui, neste torrão meridional da Pátria, um dia, pessoas decidiram: nós seremos brasileiros, mas seremos brasileiros do nosso jeito, acreditando na liberdade, acreditando na igualdade, acreditando na humanidade, querendo uma sociedade mais justa, mais irmã, onde todos possam, Vilmar, ser, efetivamente, “ermãos” e, não, simplesmente, irmãos nesta sociedade solidária, que tem sido perseguida por tantos gaúchos, gaúchos liberais como eu, gaúchos socialistas como o Lauro, gaúchos de todas as tendências políticas, mas, sobretudo, gaúchos.

Todos eles, Elma, incluem no rol de suas homenagens a mulher do Rio Grande, e é esta mulher do Rio Grande que a Câmara Municipal quis homenagear na data máxima dos gaúchos: a mulher do Rio Grande, a companheira de todos nós, que tem em ti, Elma Sant’Ana, uma expressão lídima, uma expressão correta, uma expressão absolutamente realçada. Em ti, homenageamos todas as tuas companheiras de jornada, na certeza de que este Rio Grande que é forte, que não se dobra, que enfrenta dificuldades, que por qualquer coisa peleia, que já ensangüentou as suas coxilhas várias vezes por diferenças políticas, em um ponto se une a todo o momento: o Rio Grande não seria Rio Grande se ao lado dos gaúchos não tivesse o seu melhor valor, e o melhor valor que o Rio Grande apresenta é a lealdade da sua mulher, que, permanentemente, em qualquer circunstância, esteve junto com o seu companheiro.

E a esta mulher, a Câmara de Vereadores homenageia no dia de hoje numa figura - sou suspeito para falar - de uma grande mulher, uma extraordinária mulher, uma mulher que é coração, que é alma, que é sentimento e que tem, sobretudo, fibra de gaúcha, Elma Sant’Ana, que a partir de hoje pode, com a Comenda Glauco Saraiva, ter reconhecido por Porto Alegre o que fizeste pela nossa cultura e pela nossa gente.

Muito obrigado, querida Elma, muito obrigado pelo que fizeste por nós, e nos perdoa pela nossa homenagem ser tão singela. Tu merecerias uma coisa muito mais ampla, mas podes ter certeza de que todos que estão aqui, inclusive eu, vieram aqui de coração aberto para te dizer: “Nós te amamos Elma, te amamos pelo que tu és, pelo que tu representas, pelo que. tu faz. Vai para Groenlândia; vai, mas volta e diga à gente de lá que aqui no Brasil nós sabemos que, para sermos felizes, temos que ser gaúchos, sinceros, solidários e fraternos. Um beijo para ti. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Comunicamos a presença da Vera. Clênia Maranhão, do Ver. Antônio Losada, Ver. Elói Guimarães, Ver. Pedro Américo Leal, Ver. Isaac Ainhorn e do Ver. Lauro Hagemann e Reginaldo Pujol.

O Ver. Elói Guimarães está com a palavra, pela Bancada do PTB.

 

O SR. ELÓI GUIMARÃES: Sr. Presidente, Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Gostaria de nomear também o Patrão Gilmar e a Patroa Sirlei, do Tiaraju, e, fazendo isso, homenageio os demais CTGs. Também o Piquete Anita Garibáldi. O Vilmar Romeira, esse comunicador nativista. Também quero homenagear esta figura campeã das Califórnias, um dos maiores cantores, eu diria até de todos os tempos, que muito nos honra com sua presença, o queridíssimo amigo Leopoldo Rassier. O Patrão do CTG da nossa Casa - a nossa Casa é gaúcha - o Chico Mena. Esse conceituado homem da comunicação, do folclore, comandante dos Cavaleiros da Paz, que é o Nico Fagundes, os demais presentes aqui tantas figuras, verdadeiras autoridades do tradicionalismo aqui presentes, peões, prendas, enfim, tantas pessoas que aqui, eu diria, notabilizam este momento importante que a Câmara, cumprindo disposições do seu Regimento, homenageia a Semana Farroupilha e entrega o Título Glaucus Saraiva à Elma Sant’Ana.

Antes de mais nada, eu devo cumprimentar o Ver. Reginaldo Pujol pela justiça que faz em destacar a figura magnífica da homenageada Elma Sant’Ana, professora, folclorista, criadora do Piquete Anita Garibaldi.

Falar da Elma, Sr. Presidente, Srs. Vereadores e demais presentes, é uma tarefa relativamente muito fácil, porque falar na Elma é falar da mulher do Rio Grande, da figura da mulher gaúcha na sua tranqüilidade de mãe, no seu espírito guerreiro, enfim, em toda esta síntese que representa a Elma. Ela reflete a mulher gaúcha, a mulher companheira, a mulher guerreira, ela resgata a figura histórica notável de Anita Garibaldi. Procura, com o seu trabalho, com a sua luta, com o seu Piquete, resgatar a memória, resgatar a história, porque povo que não tem memória está fadado a desaparecer. Quando pessoas como a Elma, que homenageamos, saem à luta no sentido de resgatar esses valores, nós temos que agradecer, como fez o Ver. Reginaldo Pujol, nós temos que prestar homenagens dessa dimensão. Portanto, Elma, tu és uma escritora que tem dado contribuições magníficas nas letras e nos personagens que fizeram história. Tu tens que continuar nessa cruzada, nessa verdadeira saga. Nós temos os sentimentos radicados na própria terra. Nós, gaúchos, já dissemos, não somos brasileiros pelas manhas da diplomacia, não somos brasileiros por composição política, somos brasileiros porque optamos pela brasilidade, quando, na fronteira meridional deste País, os nossos ancestrais, nos lombos dos pingos, de lança na mão, demarcaram a ferro e fogo este verdadeiro garrão do País, que é o Rio Grande do Sul. Que história magnífica nós temos, nós estamos reproduzindo essa história mercê do Movimento Tradicionalista Gaúcho.

Quem te manda um forte abraço é o Paixão Cortes, que só não está aqui porque está gripado em face das noites vivenciadas na Semana Farroupilha. O Paixão Cortes é Cidadão de Porto Alegre.

Elma, receba da Casa, quando comemoramos a Semana Farroupilha, esta homenagem, que não é gratuita, não é uma homenagem de favor, é uma homenagem que, ao teu trabalho, pela tua luta, estás ajudando a construir, a manter as nossas raízes, a manter esta alma gaúcha, a manter todo esse espírito gaúcho, que nos embala, pelo sentimento que possuímos por esta terra. É um momento extremamente significativo para nós, Vereadores desta Casa, podermos te homenagear.

Esta Comenda que recebes foi discutida e aprovada por unanimidade nesta Casa. Efetivamente, nós estamos e estávamos discutindo algo que é extremamente importante para o desenvolvimento do nosso Estado, neste momento fazemos justiça a uma figura que engrandece a nossa terra, a nossa gente e que é - como se diz - a síntese, a expressão, a ternura, a beleza da mulher gaúcha.

Então, Sr. Presidente, Srs. Vereadores, Srs. convidados, é a Semana Farroupilha que estamos comemorando. E permita-me, Elma, que, nas homenagens que te prestamos, nas homenagens que estamos fazendo, aos bravos de “35”, eu abra aqui um parêntese para incluir uma proposição que já comecei a encaminhar na forma de fax e telegramas às autoridades - já a encaminhei ao Governador e estou encaminhando-a ao Movimento Tradicionalista Gaúcho e outras áreas.

Perdemos, este ano, a figura imortal do poeta rio-grandense que é Jayme Caetano Braun. O Jayme Caetano Braun, que há pouco tempo, aqui na Casa, tivemos a honra de homenagear. Precisamos fazer estátuas em Porto Alegre e pelo Rio Grande, pelo que ele representou na poesia, nas letras. Jayme é daqueles que nascem, é daqueles que aparecem na sua área, como tantos outros artistas, filósofos, cientistas, uma vez no século. A cada cem anos, vejam bem, é o limite, a quota de figuras dessa dimensão. O que estou propondo? No maior acontecimento cívico e tradicionalista do Rio Grande - eu diria que é uma das maiores festas de raiz, não tenho dúvidas, do Brasil -, estou propondo que se encontre uma maneira, não sei qual, mas há de haver uma maneira, para que se faça um minuto de silêncio, não sei se antes da largada do desfile, ou após uma clarinada, é preciso que, num determinado momento, pelo menos num minuto, o Rio Grande silencie para sentirmos a figura de Jayme Caetano Braun.

Sr. Presidente, Srs. Vereadores, o nosso tempo é limitado e outros Vereadores devem-se fazer ouvir, e não quero tomar o tempo, mas eu tinha uma profunda amizade com o Glaucus, e, lá no Tiaraju, em memoráveis tertúlias, estivemos. Vou-me permitir, em homenagem à Elma, declamar uma poesia que é uma verdadeira antologia, na minha ótica, na minha opinião, do Jayme, que correu o mundo, porque a maior “embaixada” do nosso País são os CTGs do Rio Grande pelo Brasil afora, e esta poesia correu pagos e pagos, andou pelo mundo. Chama-se “Chimarrão” e diz assim:

“Amargo doce que sorvo, num beijo em lábios de prata, tens o perfume da mata molhada pelo sereno. / E a cuia, seio moreno, que passa de mão em mão, traduz no meu chimarrão, em sua simplicidade, a velha hospitalidade da gente do meu rincão. / Trazes a mim à lembrança, neste teu sabor selvagem, a mística beberagem do feiticeiro charrua, o perfil da lança nua encravada na coxilha, apontando firme a trilha por onde rolou a história empoeirada de glória das tradições farroupilhas. / Em teus últimos arrancos / no ronco do teu findar / ouço um potro corcovear / na imensidão deste pampa / e minha mente se estampa / reboando nos confins / a voz febril dos clarins / repenicando avançar / então me fico a pensar / apertando o lábio assim / que o amargo que está no fim / que a seiva forte que eu sinto / é o sangue de 35 que volta verde para mim. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Queremos registrar as presenças da Vera. Saraí Soares e do Ver. João Bosco Vaz.

O Vice-Prefeito José Fortunati pede licença para se retirar, neste momento, desta Sessão, pois tem compromissos inadiáveis, e nós só podemos concordar. Agradecemos a presença do Vice-Prefeito José Fortunati nesta homenagem à Semana Farroupilha e Entrega do Prêmio Glaucus Saraiva à Sra. Elma Nunes Sant’Ana.

O Ver. Antônio Losada está com a palavra, para falar em nome da Bancada do PT.

 

O SR. ANTÔNIO LOSADA: (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Nesta Sessão Solene em homenagem à Semana Farroupillha e Entrega do Prêmio Glaucus Saraiva à Sra. Elma Nunes Sant’Ana., nós, em nome da Bancada do Partido dos Trabalhadores, temos uma satisfação muito grande em dela participar.

A Revolução Farroupilha tem uma grande importância histórica, porque demonstrou à sociedade que os gaúchos, rebeldes, estavam indignados com a política centralizadora do Governo Central, que exigia, da Província do Rio Grande do Sul, o pagamento de impostos abusivos quando da venda das mercadorias a outras províncias do Brasil, tratando o produto gaúcho como se fosse estrangeiro.

As comemorações da Semana Farroupilha servem, também, para a reflexão de que o povo gaúcho quer, cada dia mais, resgatar o princípio federativo defendido pelos farroupilhas, lembrando que só é possível construirmos o pacto federativo quando a União tem o devido respeito para com os estados e os municípios. O povo gaúcho deseja uma pátria que não seja submissa e subjugada aos ditames do Fundo Monetário Internacional.

O nosso Governador Olívio é sensível à cultura gaúcha, ao folclore gaúcho. Como demonstração da sua vontade política nesse sentido, aproveitou as comemorações da Semana Farroupilha e assinou, na tarde de ontem, 15 de setembro de 1999, o tombamento da Granja de Pedras Altas, na Cidade de Pinheiro Machado, e a restauração do Palácio da República Farroupilha, na Cidade de Piratini.

A Revolução Farroupilha é, sem dúvida, um dos momentos da nossa história e da nossa tradição mais importantes na luta. do povo gaúcho, marco da nossa história, 20 de setembro de 1835. Revolução esta que durou dez anos, foi a mais longa das guerras civis já vividas em solo brasileiro, motivada pela discriminação do poder central brasileiro ao instituir impostos mais elevados para os produtos dos Estados do Sul.

Ora, houve verdadeiramente um levante, uma revolta da Província de São Pedro, o Sul contra o Império, a República que se formava, que tinha as províncias sob seu controle.

Em 11 de setembro de 1836, proclamada a República Rio-Grandense, quando então, não se pode mais falar em Revolução, mas em guerra contra o poder central, eis que esse queria manter a província sob seu controle, e não uma república autônoma como se configurava. Foi o primeiro movimento de cunho liberal no Brasil. É bom lembrar que este não foi um movimento de emancipação popular. É bom lembrar que não era um movimento para mudar, radicalmente, o modelo econômico e desenvolver o Brasil econômica e socialmente. Mas nem por isso deixou de brindar o povo gaúcho, o povo brasileiro com um saldo positivo. Mas foi um movimento que será eternamente lembrado, incentivado e comemorado, porque foi o início de um movimento por emancipação e liberdade do povo gaúcho, pela defesa da sua cultura e das suas tradições.

E, mesmo, desde que foi o primeiro movimento de resistência do povo gaúcho, nem um órgão, instituição e pessoa verdadeiramente comprometida com as tradições econômicas, políticas, culturais, a sociedade gaúcha deixou de participar e lutar. Esta história marca a tradição, a cultura e o potencial de luta do povo gaúcho..

Há um fato que eu vivenciei, que muito me emocionou, e que demonstrou a qualidade, o nível e a consciência de organização do povo gaúcho, da nossa Brigada Militar e dos nossos centros de tradições, que foi a luta pela legalidade, em 1961. Eu jamais esquecerei o desfile de 20 de setembro daquele ano. Sem dúvida, foi a mobilização das mais ricas da tradição do Rio Grande; a consciência no mais elevado sentido de brasilidade e de resistência a uma ameaça de golpe, que pairava sobre o povo brasileiro, naquele momento. Graças à movimentação e à mobilização deste povo é que nós conseguimos superar aquele momento em que nos ameaçavam com a ditadura.

Nessa feita, o movimento social, político e econômico, com forte tendência e apelo pelas mudanças do modelo econômico, levou à maioria da população a clamar, indo às ruas, reivindicando reformas de base. Mas pela frágil estrutura esse movimento não se sustentou, culminando com a renúncia, à época, e deposição, do então Presidente João Goulart, pelo Regime Militar, que, na base da força e do autoritarismo, instalou-se no poder. Ainda não era um forte levante ou uma revolução popular, mas essa luta e essa resistência também são merecedoras de aplauso de nossa parte.

Hoje, reunidos aqui neste auditório, ou em qualquer galpão ou rincão deste Estado, nós, gaúchos, temos muitas histórias de lutas e podemos tirar várias lições e ensinamentos da história e da atualidade. Continuamos, de certa maneira, enfrentando os mesmos problemas, como a discriminação do Governo Federal, que é uma discriminação diferente, é uma discriminação pautada exclusivamente pelo modelo econômico. Esse mesmo modelo, que impõe péssima distribuição de renda; uma das piores do planeta., até o incentivo à guerra fiscal, que é a luta de estado da federação contra o estado, incentivado pela federação ou pelo Poder Central.

Para finalizar, companheiros, digo: “Comemoremos, sim, a data da Revolução Farroupilha com muito orgulho!” Mas nós, nos dias de hoje, temos que aprender com a história e centrar fogo no nosso principal inimigo que é o poder econômico imposto pelas elites, proprietárias do capital financeiro internacional e seus aliados, cite-se o Governo Central e sua base de sustentação no Congresso .

 Haveremos de dizer ainda, revivendo a nossa história, que basta de injustiças sociais e guerra fiscal, queremos pão, trabalho, terra e liberdade, pois levantar o grito e brigar por justiça faz parte da tradição gaúcha. Repito que, para alcançarmos isso, temos que mudar os paradigmas, os pilares do modelo econômico, social e político de nosso País. Muito obrigado

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Nós queremos anunciar como extensão da Mesa, que nos honram com suas presenças, o Prefeito Municipal de São Jerônimo, Sr. .Urbano Knorst; Secretário-Geral da ACM - Associação Cristã de Moços, Dr. Maurício Vandorsee; Diretora do Colégio ACM, Sra. Marlene Carvalho Leite; Vice-Presidente da ACM, Sr. Luiz Fontanive Ferreira; Representante do Secretário Estadual de Obras e Saneamento, Sr. Gilmar Gaspar silva; Representante da Câmara Rio-Grandense do Livro, Sra. Márcia Martins; Comunicador da RBS TV, Sr. Nico Fagundes; Comunicador da Rádio e TV Bandeirantes, Sr. Vilmar Romera; Representante do IGTF - Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore, Sr. Luiz Dexheimer; Representante do Jockey Club do Rio Grande do Sul, Sr. Thomaz Francisco Flores da Cunha; Representantes do Piquete Anita Garibaldi; Diretor do Jornal Tradição, Sr. Edson Otto; Patrão Gilmar Lopes Hartwig, do CTG Tiaraju; Representante do Piquete Bonanza, Sr. Alencar Feijó da Silva; alunos e professores do Colégio Santo Antônio; alunos e professores do Colégio ACM; Vice-Prefeito de Capivari do Sul, Dr. Marco Aurélio Cardoso; Presidenta da Câmara Municipal de Capivari, Sra. Glaci Osório; Sra. Fátima Gimenes; Sr. Leopoldo Rassier. Sem dúvida, devemos ter cometido algum lapso porque temos a honra de contar com muitas presenças ilustres.

O Ver. Isaac Ainhorn está com a palavra, pelo PDT.

 

O SR. ISAAC AINHORN: Sr. Presidente, Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Com muita honra recebemos as mulheres que integram o Piquete Anita Garibaldi, que vêm acompanhadas da nossa presença permanente desta Casa por ocasião das homenagens à epopéia Farroupilha, nossa Fátima Gimenez. O meu querido Prefeito, que vem mais na condição de acompanhante do Piquete e da sua companheira e esposa que integra o Piquete Anita Garibaldi, do que propriamente como Prefeito da valente e valorosa São Jerônimo. Demais autoridades. Senhoras e Senhores.

Entendo que a iniciativa do Ver. Reginaldo Pujol de ter criado uma Sessão destinada, permanentemente, a homenagear a Semana Farroupilha e o Prêmio tradicionalista Glaucus Saraiva, é um momento singular que nos proporciona a cada ano as reflexões não só de caráter evocativo, mas também as reflexões dos exemplos que nos trazem a história do nosso passado, bem como, por incrível que pareça - e me atrevo a dizer isso na frente de autoridades, de homens extremamente preparados em relação à cultura do Rio Grande, como a professora, escritora e poeta Elma Sant’Ana, o nosso Professor Benfatto, o nosso Antônio Augusto Fagundes, o nosso Vilmar Romeira, o nosso Lasier e tantas outras figuras que expressam a nossa cultura rio-grandense -, mas me permito dizer que a epopéia que evocamos e as tradições que relembramos no Rio Grande ganham, ano a ano, um papel mais significativo, de expressão profunda, de profunda atualidade.

Vejam, a história do Rio Grande é repleta de exemplos, de momentos épicos e formadora de um verdadeiro caudal de experiências, num verdadeiro cadinho racial das mais diversas etnias, desde aqueles que aqui se encontravam em território nativo, aos portugueses, aos negros, as etnias italiana, alemã, espanhola, judaica, polonesa que formaram este verdadeiro cadinho de integração e permitiu, exatamente, que tivéssemos nas hostes farroupilhas um herói de dois mundos, que participou dessa epopéia e dessa jornada. A reflexão do Ver. Antônio Losada nos indica a atualidade das questões propostas. Apesar da globalização do planeta, o Rio Grande, no concerto da nacionalidade, se vê, muitas vezes, preterido. Não nos esqueçamos, disse-o bem o Ver. Losada, não foi um movimento que diríamos popular, mas nasceu da insatisfação da elite rio-grandense pelo tratamento que era concedido ao Rio Grande, à nossa economia, à fonte das nossas riquezas. Hoje, curiosamente, é o mesmo Rio Grande, com a sua economia voltada para a atividade agrícola e pastoril, que vem pagando, que vem arcando com o ônus de todo um projeto nacional. É o momento, sim, de reflexão, é o momento de união, é o momento de lembrança de uma epopéia e das lições que essa trajetória heróica e de coragem nos proporciona. Certamente, há soluções na modernidade. Às vezes, nos vêem afastados da possibilidade das soluções que demos em 1935, que foi a solução do conflito, mas o mundo, a Europa, a civilizada e culta Europa, às vezes, nos dá exemplos de lutas terríveis. Não é isso que queremos para o nosso País, mas que não levem as autoridades e as elites, que têm a responsabilidade de condução deste processo nacional a uma situação de impasse, que poderá levar à situação que nenhum de nós gostaríamos de viver.

Minha cara Elma, é uma satisfação. Lembro-me do dia em que votamos essa matéria e da honra de ter, como Líder do PDT, me manifestado com referência à tua escolha para o Prêmio.

Às vezes querem dizer que somos um Estado machista. E eu acho que o nosso Estado, o Rio Grande, é um dos maiores exemplos de integração entre o homem e a mulher. Os exemplos estão aí: na História do Rio Grande, nas mulheres do Rio Grande. E tu, neste momento, Elma, para esta Casa, para Porto Alegre, encarnas, junto com teu piquete de mulheres, essa figura da mulher rio-grandense, da mulher corajosa, que vai à luta, que assume posições, que reflete, que pensa, da mulher que aponta caminhos. É por isso a satisfação de te prestar essa homenagem.

Por fim, gostaria de fazer as três referências das minhas reflexões: primeira, o Rio Grande não está adormecido. O Rio Grande vive intensamente esse processo histórico, insatisfeito com o que acontece em nosso País. E esse maravilhoso setor, que alguns teimam em ignorar, o setor ligado à cultura e à economia do Rio Grande, o setor ligado à atividade agrícola, ligado à atividade pastoril representa 75% das fontes de divisas do Estado. Essa cultura nativista cresce e prospera no Rio Grande que não está adormecido, não está quieto: acompanha atento a tudo. Felizmente, alguns setores que tinham uma visão crítica em relação ao tradicionalismo, hoje conhecem a força de um movimento que não de mero culto à tradição. Não. É muito mais. É um movimento de amor à terra, um movimento de natureza crítica. E os jovens, hoje, estão integrados a isso.

Eu imaginava que domingo pela manhã as pessoas não tivessem paciência para ouvir, às seis da manhã, o programa do Nico na Rádio Gaúcha, depois o programa do Romera na Bandeirantes, e os programas de televisão. Mas não são só os aposentados, eu não imaginava que, domingo, pela manhã, tantas pessoas ficavam acordadas para ouvir aqueles debates sobre o Rio Grande, sobre a cultura tradicionalista, e sobre as nossas raízes. Essa matéria vem despertando muito interesse. E eu venho de um povo de profetas também profundamente enraizado, porque nós somos um verdadeiro cadinho, essa é a síntese das três reflexões, um povo de profetas cuja atividade maior era a de natureza pastoril, e que deixou de ser pastoril mercê do autoritarismo, da prepotência e do preconceito que impediram certos segmentos étnicos de terem acesso a terra.

Então, a síntese étnica do Rio Grande, as reflexões que nos proporciona a maior epopéia do Rio Grande, a guerra, a luta a Revolução Farroupilha e esta homenagem expressam os momentos maiores desta iniciativa que teve esta Casa, na proposição do Ver. Reginaldo Pujol, de, mais uma vez, relembrar a epopéia Farroupilha e te homenagear Elma, neste momento, como símbolo da mulher rio-grandense, orgulho de todos nós. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Obrigado, Ver. Isaac Ainhorn. Nós também não poderíamos deixar de anunciar as presenças que nos honraram muito, o ex-Deputado Estadual Joaquim Monks, Vanderlei Moura, da Rádio Liberdade, Sr. Ramos Valle, Presidente do Farroupilha Grupo de Pesquisas Históricas.

E nós não poderíamos deixar de assinalar a presença, aqui, de vários funcionários desta Casa que batalham pelas tradições do Rio Grande mantendo aqui, nos fundos da nossa Câmara, o CTG Maurício Sirotsky Sobrinho, recentemente reformulado. Eu quero marcar aqui, com a presença dos nossos queridos funcionários, esta batalha que visa a manter viva a chama e a tradição deste Estado.

A Sra. Clênia Maranhão está com a palavra pelo PMDB.

 

A SRA. CLÊNIA MARANHÃO: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda componentes da Mesa e demais presentes.) Esta Sessão Solene em homenagem à Semana Farroupilha engrandece-se, neste dia, pela definição unânime desta Casa da entrega do Prêmio Tradicionalista Glaucus Saraiva a Elma Sant´ana. Nós já estamos ficando habituados a, todos os anos, retornarmos a este Plenário, tendo seguido a honrosa proposição do Ver. Reginaldo Pujol, que tem nos levado, através desta homenagem, a refletir sobre essa tão marcante, impressionante e decisiva etapa da história brasileira. Neste ano, o Ver. Reginaldo Pujol superou-se na sua iniciativa, porque conseguiu fazer com que homenageássemos um símbolo vivo dedicado ao resgate dessa história que é a Elma Sant´ana. Nós que admiramos a pessoa pública da Elma, agora conhecemos o outro lado da Elma através das informações que nos trouxe o Vereador. Ficamos sabendo que a professora, geógrafa, ecologista, folclorista, quase advogada e escritora Elma Sant´ana, idealizadora desse Piquete que orgulha de uma forma muito particular as mulheres, não apenas as gaúchas, mas as mulheres brasileiras, tem uma trajetória de trabalho, de construção desse pensamento no Rio Grande, no Paraná, em Santa Catarina, na Itália, na Dinamarca. Ocupou o mundo. Seguiu espalhando no planeta os ideais tão bem expressos nos gestos, na ação e no pensamento de Anita Garibaldi. Eu centro a minha homenagem à Revolução Farroupilha, falando fundamentalmente da Elma e de um segmento tão expressivo e decisivo da Revolução Farroupilha: as mulheres.

A Elma tem contribuído para que, no avançar dos tempos, nomes esquecidos, desprezados ou apenas guardados, por alguma razão, venham a emergir, do fundo da história, para a presença da sociedade. A Elma Sant’Ana tem sido peça fundamental para se recuperar quem construiu esse processo, ela tem buscado a recuperação da contribuição das mulheres. A maioria das mulheres, mais do que relegadas ao anonimato, tiveram a sua contribuição desvalorizada, desrespeitada e desprezada por muito tempo. Foi preciso que alguns estudiosos pulassem o muro dos preconceitos e tentassem recompor, com justiça, os fatos daquela época. Foram escritores como a Elma que resgataram a história de galhardia de tantas mulheres que, ao lado dos seus maridos, dos seus filhos, também enfrentaram as batalhas.

Mas eu queria não me referir apenas às mulheres que enfrentaram os combates. Eu queria lembrar, nesta data, a contribuição de tantas mulheres anônimas, lusas, índias, negras, escravas ou libertas, que contribuíam com a infra-estrutura, atendendo os feridos, apoiando, incentivando o avançar, na sua prática, na base dos seus ideais. Queria resgatar aqui as suas ações de suporte, as suas ações de espionagem, e as ações daquelas mulheres que, sendo fazendeiras, jamais tinham vivenciado a experiência direta do trabalho e que mostraram o quanto elas eram capazes de, mesmo enfrentando a dor da perda dos seus companheiros, assumir aquilo que hoje modernamente chamamos de mulheres chefe de família. E foram tantas mulheres: Maria da Glória Garcia., Maria Josefina Fontoura Pinheiro, Maria Angélica Corte Real, e tantas outras.

Trouxe para vocês um texto de um livro de uma escritora, amiga comum, minha e da Elma, a Professora Ivone Capuano, que diz assim: “Elas eram heroínas desconhecidas. Foram mães, esposas, filhas que atuaram direta e indiretamente no Movimento, amargando o sacrifício de perdas dolorosas e emprestando o apoio aos revolucionários, nos dez anos que combateram”. Foram tantas as marias desta luta! É impossível falarmos de mulher e de luta sem lembrarmos da mulher que atingiu o ápice desta ação guerreira: Anita Garibaldi. Neste dia é impossível falarmos da Revolução Farroupilha sem pensarmos que a Revolução, que terminou em 1845, a Revolução que, por dez anos, ocasionou a separação entre brasileiros, ao final juntou-nos, para que honrássemos, lado a lado, a integridade da Pátria. O Rio Grande continuaria, como já fizera antes da eclosão da Revolução, a desempenhar na História Brasileira o importante papel de defensor dos ideais de liberdade. Muito obrigada.

 

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Ver. Lauro Hagemann está com a palavra e falará em nome do PPS.

 

O SR. LAURO HAGEMANN: Sr. Presidente, Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Esta Câmara, que tem sua história profundamente inserida na história do Rio Grande - são 226 anos de funcionamento aqui em Porto Alegre, e no ano que vem, comemorando 250 anos funcionando na Capital do Estado - nós temos um papel a representar nesse processo. O Rio Grande não seria o Rio Grande sem a sua Porto Alegre!

E aqui estamos nós cultuando a Semana Farroupilha, as mais diversas etnias que compõem esse caldeirão em que nós nos revolvemos, e acentuando o caráter nacional que tem a formação histórica dessa corrente de atuação, inclusive folclórica. Hoje, no Rio Grande, se comemora, com grandes festas, a Semana Farroupilha. É uma festa cívica que, desconfio, não há igual no Brasil. Gaúchos de todas as latitudes comemoram a sua semana. O gauchismo, o tradicionalismo, o folclore rio-grandense se esparramou pelo Brasil e pelo mundo. E uma das figuras que ajudou a fazer isso está sentada aqui conosco, está sendo homenageada: Elma Sant’Ana. Elma Sant’Ana tem um mérito indiscutível, que é o de resgatar a figura de Anita Garibaldi, uma heroína praticamente desconhecida até há pouco tempo. Só se ouvia falar nela porque tinha acompanhado Giuseppe Garibaldi. Essa era a sina, parece, das mulheres de antanho. Erico Veríssimo retrata muito bem, nos seus livros, a figura da mulher, Josué Guimarães retrata a figura da mulher imigrante. E assim sucessivamente, na literatura, na história, nós vamos vendo que a mulher, no nosso Estado, respeitando a opinião contrária, até há pouco tempo manteve uma atitude subalterna. E no Rio Grande, hoje, são 100 mil mulheres a mais, em relação aos homens. Esse espaço é que está sendo ocupado pela mulher. E ao homenagearmos a Elma Sant’Ana, nós estamos, de certa forma, resgatando um pouco do machismo gauchesco. Indiscutível, nós não podemos esconder isso, mas, gradativamente, as coisas vão mudando, e é graças a uma Elma Sant’Ana e a outras mulheres que essa história está sendo recontada; daqui para a frente, ela vai ser contada de uma maneira diferente.

Eu não queria deixar passar a oportunidade para relembrar a Revolução Farroupilha, do século passado, que muitos autores inquinavam de separatista. Ao longo da história, de mais de cem anos, no entanto, essa visão foi sendo modificada, a ponto de nós aceitarmos, hoje, o dito de que o gaúcho é brasileiro por definição, por vontade, não por demarcação fisiográfica.

Eu quero aproveitar a ocasião para manifestar a minha preocupação com uma notícia que eu vi, hoje, estampada num jornal de Porto Alegre: foi constituída, ontem, em Pelotas, uma comissão para estudar a divisão do Estado do Rio Grande do Sul. As condições do século passado e as de hoje, de certa forma, se aproximam, pois nós temos graves queixas contra o Governo Central. Nós temos todas as razões para nos queixarmos, para deflagrarmos uma luta no sentido de que reconheçam as condições do Rio Grande, mas, no momento, o que se pretende - por enquanto, é um movimento sub-reptício - é dividir o Estado por motivos idiossincráticos. Nós temos que nos dar conta de que alguma coisa está acontecendo, sobretudo as mulheres do Piquete Anita Garibaldi, a Elma Sant’Ana, todos os que aqui estão conosco hoje - vejo figuras altamente representativas do Movimento Tradicionalista. Nós precisamos verificar o que está acontecendo, qual é a direção desse processo. Embora tenhamos algumas notícias inquietantes a respeito disso, é preciso que a sociedade como um todo tome conhecimento do que está em gestação. E não se trata, parece-me, de uma divisão física. do Rio Grande pampeano e do Rio Grande serrano, não é esse o motivo.

E agora, quando se comemora a Semana Farroupilha, neste instante, perdoem-me ter trazido à tona este assunto, mas ele também pertence aos nossos antepassados que foram inquinados de separatistas, sem essa perspectiva que hoje se oferece.

Por isso Elma Sant’Ana, a tua presença aqui é muito importante, porque além de estarmos homenageando esta simbologia emblemática da nova mulher gaúcha, estamos apontando para alguma coisa que poderá acontecer. Tomara que não aconteça nos termos que está sendo posta. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Gilberto Batista que fala pelo PFL.

 

O SR. GILBERTO BATISTA: (Saúda os componentes da Mesa.) Srs. convidados para esta solenidade, que homenageia a Semana Farroupilha e entrega o Prêmio Glaucus Saraiva à Sra. Elma Nunes Sant’ana.

Nesta semana tão importante cabe uma reflexão que deve ser feita diariamente por todos os gaúchos. Sou muito sincero em dizer que sou gaúcho e que gosto das tradições, mas não fui acostumado à lida campeira nem a vestir esses trajes maravilhosos. No coração trago viva a questão do gaúcho, a questão do tradicionalismo, da cultura ímpar do nosso Estado, neste País maravilhoso. Pergunto-me por que as pessoas fazem isso diariamente: tomar chimarrão, divulgar essa coisa bonita do tradicionalismo, esses momentos agradáveis que visam, somente, a resgatar a cultura do nosso povo tão batalhador, que em épocas diferentes nos trouxe o gauchismo?

Não entrarei em detalhamentos políticos, porque não cabe discutirmos, hoje, sobre os problemas do Estado, do País ou do Município; cabe, aqui, parabenizar a cada um por cultivarem essa tradição, essa cultura, essa coisa que só o gaúcho sabe, que é a nossa tradição, a nossa força; aquela coisa de dizer para todo País: Tchê, eu tenho orgulho em ser gaúcho!

Parabéns Líder, cada vez mais líder nesta Casa, Ver. Reginaldo Pujol, pela iniciativa desta homenagem. Cabe-nos refletir sobre este momento, que V. Exa. traz à baila, com muita justiça, para resgatar, nesta semana, essa coisa maravilhosa que é a tradição gaúcha. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Permitam-me quebrar o protocolo, eu não nasci nesta terra, mas eu tenho a mesma paixão que Anita Garibaldi.

Belas e tocantes, sem dúvida, foram as palavras de todos os Vereadores, mas, certamente, bela, tocante será, agora, a bela voz para homenagear uma bela trajetória. Queremos convidar Fátima Gimenez para prestar homenagem a nossa Elma Sant’Ana, interpretando a música Guerreiras da Paz.

 

A SRA. FÁTIMA GIMENES: Sr. Presidente, Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Companheiras do Piquete Anita Garibaldi, do qual eu faço parte, com muito orgulho. É uma grande honra estar aqui hoje homenageando essa que é sem dúvida uma grande mulher, a nossa amiga Elma Sant’Ana, e eu a homenageio, cantando uma música que fala sobre as mulheres gaúchas, as mulheres que durante as revoluções ficaram em casa cuidando da terra; essas mulheres que sustentaram durante um longo tempo a economia rio-grandense, enquanto os maridos estavam nas revoluções. Essas foram as grandes guerreiras da paz.

 

(Interpreta a música Guerreiras da Paz.)

 

O SR. PRESIDENTE: Neste momento faremos a entrega do Prêmio Tradicionalista Glaucus Saraiva à Sra. Elma Nunes Sant”Ana. Solicitamos que o Ver. Reginaldo Pujol, proponente desta homenagem, faça a entrega do Prêmio. Como não podemos contar com a presença de parentes do nosso homenageado, Glaucus Saraiva, convidamos o Nico Fagundes, primeira pessoa a receber o Prêmio, para fazer a entrega da Comenda, juntamente com o Ver. Reginaldo Pujol, a nossa homenageada.

(É feita a entrega da comenda à Sra. Elma Nunes Sant”Ana.)(Palmas.)

 

Temos o grande prazer de ouvir a palavra da nossa homenageada, Sra. Elma Nunes Sant’Ana.

 

A SRA. ELMA NUNES SANT’ANA: (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Hoje é dia 16 de setembro. Para mim, como para os Farrapos em 1835, a primavera veio mais cedo. Também me é grato evocar uma outra antecipação da primavera: a 16 de setembro de 1840 nascia em São Simão, Comarca de Mostardas, o primogênito de Giuseppe e Anita Garibaldi, o Menotti, que um dia será oficial superior do exército italiano. Giuseppe e Anita terão outros filhos mais tarde, mas apenas Menotti terá o solo rio-grandense como berço, como se o Rio Grande do Sul quisesse dar uma bênção especial, um toque de gratidão e reconhecimento ao casal pelo muito que haviam feito em prol de seus ideais. É uma agradável coincidência que uma garibaldina convicta como eu receba o mais alto galardão que a Capital do Estado pode ofertar pelas mãos dos mais dignos representantes, no mesmo dia em que nasceu o General Menotti Garibaldi.

Dediquei a minha vida a esta terra e a esta gente; à minha terra e à minha gente. Nascida na Cidade de Triunfo, a histórica Triunfo que um dia foi berço do General Bento Gonçalves da Silva, descendente de gente campeira, filha de fazendeiros, de gente da terra, sem jamais perder o impulso telúrico. Guriazinha ainda vim para Porto Alegre para estudar aqui. Eduquei-me no Colégio Americano, do qual guardo as mais caras lembranças. Formada no curso de Magistério, no próprio Colégio Americano, ditei as minhas primeiras classes. Inclinei-me, ao longo da minha carreira de professora, para a Geografia, na qual me especializei, como se buscasse, permanentemente, o contato com a terra. A Geografia me levaria à Ecologia. A Ecologia me levou ao Folclore e o Folclore me levou à História. Na Geografia, na Ecologia, no Folclore e na História gosto de pensar que deixei o rastro da minha passagem e, certamente, concordam com este pensamento os Senhores Vereadores que me honram, hoje, com esta alta distinção. Não procurei a apologia dos maiores como militante das Ciências Sociais. Busquei na Geografia Humana e na Ecologia compreender e defender o interesse dos humildes. No Folclore, dediquei sempre o meu trabalho à gente simples do campo, à agricultora, à parteira, à mulher sem voz. Na História, empenhei o melhor de mim, o mais nobre do meu esforço na defesa dos injustiçados do luminoso Panteão Farrapo: Giuseppe Maria Garibaldi e Ana de Jesus Ribeiro - a Anita Garibaldi. Não tenho a pretensão de haver dito ou de ter feito coisas definitivas. Nem acredito que a luta tenha terminado. Tenho, isso sim, o limpo orgulho de ter feito, até agora, o meu papel e a tranqüila certeza de continuar lutando amanhã. Há muito para fazer e, dolorosamente, são poucos os que fazem.

Uma nova missão me reclama. Novamente, vou partir. Outra vez, vou ficar afastada desta terra que eu tanto amo. Cruzei tantas vezes os caminhos do mundo que aprendi a identificar em cada povo, em cada país os traços da minha terra e da minha gente - os meus próprios traços.

O Folclore prova, ao contrário do dito popular, que o homem não é o lobo do homem, mas o irmão do homem, na frase lapidar do grande Carlos Galvão Krebs.

Vou agora viver na Groenlândia. Por quanto tempo? Não sei. Sei, sim, que a imensa distância geográfica será sempre pequena diante da minha saudade e que alguma coisa de comum eu haverei de descobrir entre lapões, esquimós e gaúchos. Estabelecer o traço comum, fundamental entre os nossos povos, será também uma maneira de agradecer à Câmara de Vereadores de Porto Alegre a imensa distinção que me faz neste momento.

Eu conheci Glaucus Saraiva. Fomos professores do Curso de Pós-Graduação em Folclore da Faculdade Palestrina. A morte prematura do grande poeta e folclorista impediu o desenvolvimento de uma amizade entre nós que eu tanto desejava. Agora, recebo a Comenda que tem o seu nome e quero honrar essa tradição e essa distinção.

Fui sempre uma pessoa profundamente leal. Eu acredito na fraternidade fundamental entre gente, povo e nação. E é em nome dessa lealdade tão tipicamente porto-alegrense que eu digo, simplesmente, muito obrigada. Muito obrigada, Srs. Vereadores, Sras. Vereadoras. Obrigada meus amigos: Vilmar Romera; Vanderlan Moura; Nico Fagundes, meu irmão de coração; Cari Vale, esse grande pesquisador, meu companheiro; minha família, que está presente neste momento, e a este dínamo e amigo que é o Luizinho Dexheimer e outros grandes amigos aqui presentes. Muito obrigada às minhas amigas. (Palmas.)

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE: Mais uma vez agradecemos a honra de contarmos com a presença de todos.

Convidamos para que, em pé, ouçamos o Hino Rio-Grandense, que será interpretado pela cantora Fátima Gimenez.

Minhas senhoras, meus senhores, convidamos todos para confraternizarmos, agora, no Varietá Bistrô, no Shopping Praia de Belas, uma comemoração que nos será oferecida pelo Sr. Edenir Simoneti, proprietário daquele estabelecimento, um bom vinho a nossa homenageada e aos seus convidados.

Mais uma vez, então, nossa homenageada estará distante de nós na geografia, mas estará próxima de nós no coração, e temos certeza de que, se não nos comunicarmos pela Internet, a qual esta Câmara está ligada, a cor da nossa bandeira, que sei que estará na sua mala, será sempre uma referência entre nós e a senhora. Muito Obrigado, senhores, muito obrigado senhoras, boa noite a todos.

Estão encerrados os trabalhos da presente Sessão.

 

(Encerra-se a Sessão às 19h15min.)

 

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